Lembrando que dia 21 de setembro é o Dia Da Árvore fica essa homenagem. Quatro
fatos sobre essas fotos: 1º são a mesma pessoa; 2º sou eu que apareço em ambas;
3º é mais fácil subir numa árvore do que descer dela. 4° fato, ambas as fotos
são analógicas. Infelizmente, não é a mesma árvore, a primeira há muito não
existe mais. A segunda foi no Parque do Ibirapuera, em 2006, espero que ela
ainda exista, quando houve uma ventania muito forte, algumas árvores caíram. Eu
nasci na capital de São Paulo, cresci num bairro de uma cidade, onde havia
muitas casas com árvores, alguns campos de futebol com árvores, foi um bairro
residencial que foi industrializando-se.
Existia uma goiabeira na casa do meu tio, outra na casa da minha tia. Eu
e meu pai subíamos para comer goiaba, e é muito mais emocionante comê-las
direto do pé, toda vez que eu como uma goiaba, ou qualquer outra fruta, eu
penso nisso. Por algum motivo que eu desconhecia, eu não tinha medo de altura,
comecei a subir em tudo que era árvore que encontrava. Subi nas árvores mais
altas que eu encontrei. Eu lembro muito bem desses dois dias, quando essas
fotos foram tiradas. Na primeira, era comum fotógrafos perguntarem aos pais se
eles queriam uma foto de recordação dos filhos, com uma polaroid com filme preto
e branco ou colorido. Eu lembro que meu pai quis uma recordação, eu disse para
esperar que eu ia subir na árvore, que ficava no meio do quintal, subi o mais
alto que pude, os galhos começam a afinar, dá para ver os telhados da casa ao
fundo. Lembro-me de o fotógrafo dizer para olhar para lente. Na segunda foto,
que é no Parque do Ibirapuera, foi depois de uma aula de Yoga no Parque,
voltávamos eu, minha irmã e a amiga dela. Fazia muito tempo que eu não subia
numa árvore, não foi nada planejado, eu senti um ímpeto de subir na árvore, e,
sem avisar nada, corri até a árvore próxima e comecei a subir, a amiga da minha
irmã registrou o momento. Eu nem sei se podia ou não subir (é mais fácil vermos um aviso relacionado a pisar na grama) eu fui motivado
pelas lembranças da infância, uma euforia emotiva que não sei como racionalizar.
Eu não sei o que a amiga da minha irmã pensou, eu também não me importei, há
coisas que só fazem sentido para nós mesmos. Na infância, havia uma jabuticabeira enorme,
perto da minha casa, onde morava um amigo meu de infância, ele subia em árvores,
mas tinha receio de subir até a parte mais alta, para subir até no topo, a
família dele me convidava, eu trazia uma sacola de jabuticaba para casa. Numa
dessas vezes, eu bati o recorde, bem no topo, através da copa, consegui pôr a
cabeça para fora e avistar minha mãe lavando roupa no tanque do quintal da
minha casa, que era do outro lado da rua. Eu gritei bem alto: “Mãe!”, ela ficou
meio perdida, tentando descobrir de onde vinha o chamado, até que me avistou,
sem acreditar. Nos fundos da casa da minha tia tinham três pés muito alto de
ameixa, ameixeiras, eu chegava da escola, subia no topo e ficava comendo ameixa
lá. Uma vez eu lembro que subi bem no topo, abaixei os galhos com as mãos para
olhar para o horizonte, vi muito longe uma fábrica, e as centenas de pequenas
vidraças refletiam o pôr do sol. Eu lembro que refleti, pensei, que só eu
estava vendo aquela vista e comendo ameixas. Na casa dos meus avôs paternos
havia uma cerejeira, claro, eu também subia nela. Num campo de futebol que
existia perto da minha casa, havia uma árvore com os tronco e galho verde-musgo,
difícil de subir, lá estava eu, subindo, meu pai voltava da padaria e parou
para esperar eu descer e voltamos juntos para casa. O triste é que vi todas
essas árvores desaparecerem, o bairro sofreu uma industrialização. Na verdade,
a jabuticabeira ainda existe, eu a vi pelo Google Maps. Eu também subia no
telhado e forro da casa, eram lugares de difícil acesso, subia sem escada.
Subir pelo batente da porta, antes de subir em árvores, isso vinha de longe.
Subir em muros, árvores, telhados, acho que foi um verdadeiro milagre nunca ter
quebrado nada, mas eu tomei um tombo, não de uma árvore, mas, ao passar para a
casa da minha tia (para que usar o portão), subi no muro que dividia as casas e
segurarei numa telha da garagem que se quebrou, caí em cima do carro, uma
brasília (não amarela, era marrom), foi apenas um susto, a telha estava podre,
agora, está explicado o que eu não expliquei na postagem anterior. O pior foi
que esse tombo não me desanimou, continuei gostando de altura e subir em
árvores. A mensagem da foto: “Envelhecer é inevitável, sentir-se velho é
opcional”, eu a vi numa postagem, na qual havia uma senhora que estava pulando
amarelinha, eu traduzi a frase, espero postar essa foto dela em breve. Será uma trilogia de posts. Eu traduzi a mensagem e pensei que era
perfeita para essas duas fotos que eu apareço. Eu consegui fazer alguns galhos
de uma se encaixarem na outra. O fluxo do tempo continua, nos galhos da árvore
da outra foto, mas enfatizando a passagem do tempo, duas fatias do espaço-tempo
que se intersectam, seria mais preciso. Não uma árvore genealógica, mas a árvore
simboliza a cronologia do tempo, da mesma forma que todos nós também somos um
tipo de relógio biológico da passagem do tempo. A frase das fotos é válida para nossa espécie
e muitas outras, porém não para a Hydra magnipapillata, um pólipo que vive em
águas frias, doces e limpas, praticamente, não sofre o processo do
envelhecimento e se fortalece com o passar do tempo (segundo as fontes: Nature; The Daily Mail). Quem sabe, daqui 50,
100, 200 anos, alguém do futuro leia essa postagem e diga que a frase não é
mais verdade e comente: “Envelhecer é sentir-se velho são opcionais”. Voltar no
tempo e imortalidade são desejos secretos, não para todos, mas há jovens que se
sentem velhos e entediados, e idosos que são joviais, animados e cheios de
esperança. A idade cronologia e a percepção da idade não são sincronizados. Quem já não acordou, em alguns dias, com um sentimento de ter vivido tantos anos, muitos mais do que a idade cronológica, mistérios do tempo...
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