Podem existir algumas fases nas quais os filhos deixam de ser
cooperativos, colaborativos,
transformando-se em verdadeiros mercenários ou numa pequena microempresa
terceirizada, onde querem cobrar por qualquer serviço prestado, ou, no caso,
por qualquer favor pedido. Esse período pode ser mais notado quando querem
comprar algo, e o aniversário ou Natal ainda estão longe. Os favores de filhos para os pais jamais
deveriam ser cobrados, ajudar pôr o lixo para fora, por exemplo, ir ao mercado comprar alguma coisa. Em alguns
casos, o favor remunerado é o equivalente à mesada, os favores prestados já estariam embutidos na mesada. Paralelo a isso, existem aquelas lições de moral sobre aprendizado do valor do dinheiro, do
dinheiro trabalhado, suado, que nem sempre dão certo. Trabalhar muito por pouquíssimo dinheiro só prova que alguém tem futuro em ser trabalhador escravo. Depois de ajudar em muitas
tarefas, recebendo uma merreca de dinheiro, alguns chegam à conclusão que é
melhor esperar pelo Papai Noel ou pelo aniversário, até Papai Noel impõe condição, se foi um bom menino ou menina. Tem uma nuance, receber por ajudar numa tarefa é diferente de querer dinheiro para fazer qualquer favor. Receber por ajudar a pintar a casa de algum parente é diferente de cobrar para só carregar os rolos de pintura. Dependendo
da quantidade recebida, por ajudar em alguma tarefa, fica a falsa ilusão
de que, por mais que se trabalhe, o que se recebe é sempre pouco. Não seria má ideia pesquisar o piso salarial, e a relação hora trabalhada. Se pensarmos nos antigos trabalhadores, que recebiam em sal, daí origem da palavra salário, o que ganhavam em sal não dava nem para comprar remédio para controlar a hipertensão, que, na época, devia ser chá de miolo de chuchu ou chá de folha de amoreira. O décimo terceiro dessa época devia ser um saleiro... Em troca de algum favor, alguém poderia receber uma gorjeta salgada. Essa
percepção de salário injusto continuará uma realidade na vida adulta, são bem poucos os que se
sentem felizes com o salário recebido. Basta lembrar qual seria o salário mínimo, digno, justo para uma pessoa, essa meta ainda está longe de ser alcançada. Seja como for, o incentivo monetário, em
troca de algum favor, condiciona a sempre esperar dinheiro em troca de fazer
algum favor. É capitalizar selvagemente o humanitário. O incentivo monetário em troca de um favor ou para quebrar a inércia e a
má vontade é uma péssima ideia. Pode ser até uma ofensa, quando alguém quer dar um quantia por um favor feito de coração. Isso ficará também no campo da interpretação, alguém ajudou a descarregar uma compra, reclamou porque não recebeu nenhuma gorjeta, não era um favor, mas um pequeno serviço não cobrado explicitamente prestado. O favor deve ser algo
natural, por princípio, de livre e espontânea vontade. Favor não é pare ser
comprado, no máximo, retribuído, algum dia, por camaradagem e sem envolver qualquer relação que prejudique alguém para outro ser beneficiado. Fora dessa relação de pais e filhos,
os favores devem ser feitos com sabedoria, pois muitos abusam de pedir favores
e exploram os outros. Isso é emblemático na relação entre os vizinhos Homer Simpson e Ned Flanders. Os favores podem ser retribuídos um dia, como quando alguém ajuda um amigo na mudança, você ajuda alguém porque aquela pessoa foi
legal com você, sem ela pedir, sem querer nada em troca, embora seja raro, isso ainda acontece. Alguns só se lembram de nós, quando
precisam de algum favor. Assim como existe a memória olfativa, essa memória é a interesseira. Existem aqueles que só faltam dizer: “Nunca espere um
favor em troca de outro”. Há até quem cobre um favor feito no passado em meio a uma discussão. Quando os
favores não são feitos por princípios, por ética, eles se tornam perigosos,
viram troca de favores, na política, viram uma mão lava a outra, e as suas mãos
roubam o dinheiro. Nessa troca de favores, corruptos e corruptores são
favorecidos. Ao povo resta dizer: Por favor!, basta de tanta roubalheira.
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