Eu pensei em homenagear o Dia Internacional da Mulher
postando o quadro da Mona Lisa (ou La Gioconda), pintado por Leonardo da Vinci,
mas decidi por postar: A Moça com Brinco De Pérola, pintado pelo holandês Johannes Vermeer. Se a Mona Lisa tem uma
rival, na arte, essa rival é Griet, não é por acaso que alguns chamam a pintura
“A Moça Com Brinco De Pérola” de: Mona Lisa Holandesa. Essa pintura virou romance, e, depois, filme. Griet foi interpretada, competentemente, pela
atriz Scarlett Johansson que consegue transmitir a pureza, timidez, mistério e
agudeza de espírito que imaginamos ter sido a Moça Com Brinco de Pérola. No
filme, depois de dificuldades financeiras da família, a jovem Griet se vê
obrigada a trabalhar como criada na casa do pintor Johannes Vermeer e a esposa dele,Catharina Bolenes, católicos, com muitos filhos (15 filhos, sendo que 4 morreram muito novos) e a sogra mora com eles. Griet é protestante,
analfabeta, mas tem uma agudeza de espírito que a faz ter uma percepção sobre a
profundeza das coisas, sobre a essência. Embora não tenha havido nada entre ela
e Vermeer, Griet se torna pivô de uma tremenda discussão, quando a mulher de
Vermeer descobre que o quadro que ele vem pintando, secretamente, que era uma encomenda, retrata
Griet, o que mais a machuca, além de não ter sido a musa pintada, é o fato dos
brincos de pérola serem dela, da patroa. Simbolicamente, as pérolas representam
castidade, pureza, outro fato controverso e polêmico para a época foi uma
criada ter sido retratada, geralmente, só mulheres ricas e da classe alta eram retratadas,
só as burguesas abastadas. Os brincos de pérola seriam um ingresso temporário
de Griet nesse mundo de ostentação, glamour ou um artifício do pintor, um
elemento que reflete luz, brilha e joga luz refletida na sombra. Esses “pontos”
de luz, e o tratamento especial dado à luz e sombras, principalmente à luz, são recorrentes nas pinturas de Vermeer. Olhos expressivos, boca entreaberta,
ingenuidade, respeito, essa ambiguidade.
O quadro que fica sempre coberto, quando Vermeer não está trabalhando
nele, o que a atriz consegue transmitir é que Griet sempre fica em dúvida se
Vermeer a olha com olhos de pintor, como uma musa ou modelo ou se, às vezes,
ela a olha como amor, com olhos de homem. Embora a pintura pareça um caso onde
a empregada doméstica vai trabalhar na casa dos patrões, e resulta uma
grande crise conjugal, com acusações infundadas (às vezes, com fundamento), em
momento algum Griet age de má fé ou tenta seduzir Vermeer. Obviamente, como
Griet não deixou um diário ou outro registro, embora analfabeta, ela poderia
ter narrado o período que passou junto a família de Vermeer, de sua estadia
como criada na residência, para que alguém fizesse um registro escrito. Essa Griet, da ficção, criada pela escritora Tracy
Chevalier, é baseada em costumes da época da sociedade puritana (e muitas vezes
hipócrita) Holandesa do século XVII, certamente, a escritora, com sua
sensibilidade feminina imaginou diálogos e situações do período no qual, sem
saber, Griet seria, um dia, comparada à
Mona Lisa. A escritora preenche as
lacunas, além da pesquisa sobre época da realização do quadro, técnicas de
pintura, e o conturbado período. Se observarmos bem, há uma ambiguidade na
expressão, assim como o meio sorriso da Mona Lisa ou esboço de sorriso, há um
misto de idoneidade de caráter, castidade, ingenuidade e tristeza, ao mesmo
tempo, uma aura de felicidade, é essa ambiguidade que rivaliza com a Mona Lisa.
Embora não instruída, Griet tinha uma sensibilidade artística, no filme, dá-se
a entender que tal sensibilidade fora herdada do pai, que era artista ceramista.
Johannes Vermeer, famoso por pintar interiores e cenas do cotidiano, fez da vida
particular dele um verdadeiro mistério, a única pista são as pinturas deles,
sobre as quais podemos especular. O mistério poderia ser representado pelas
sombras presentes na pintura dela, os pontos de luz, ou ponto de luz, no brinco
de pérola, podem representar a genialidade do tratamento da luz que é típica
nas obras dele. O clima tenso que acompanha o período de execução da pintura
nos faz esquecer do possível conflito religioso ou choque religioso, Griet era
uma protestante trabalhando na casa de católicos. Para finalizar esse post e a
homenagem às mulheres, sem a mulher, a arte não seria absolutamente nada, sendo
a obra mais perfeita da natureza, a mulher. De nada adianta o artista ter o dom de
desenhar e pintar se não existisse o belo para ser retratado. Podemos imaginar
o mundo no qual a Moça Com Brinco de Pérola viveu, 350 anos atrás, uma
sociedade machista e desigual, ela jovem precisando trabalhar fora, essa luta
da mulher pela igualdade vem de longe, ainda está longe de ser a ideal, de ser
justa. Todos sabemos, a cada dia, minuto e segundo que a sensibilidade, ternura
e força da mulher é que fazem o mundo ter esperança e continuar. Essa força
e coragem que coexistem com a sensibilidade, carinho ternura e beleza que as fazem tão admiráveis, maravilhosas e
fantásticas.
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