A expressão descartável como um copinho plástico perdeu o
efeito, ou melhor, parece defasada hoje em dia. Não só os celulares,
mas, todos os dispositivos móveis de última geração, terão uma “vida” breve. O
estranho é que estão em perfeito funcionamento, ou seja, sua vida útil, sem
apresentar defeitos, seria maior. Eu queria evitar as palavras: consumismo
tecnológico e compulsão por tecnologia, mas não tem como fugir delas. Quando se
compra um celular, parece que já se pensa quando será o lançamento do próximo.
Aquela euforia com o sonho de consumo (momentâneo), vai passando com os dias e
com o tempo. O ser humano encontra-se altamente dependente desses
dispositivos móveis. Muitas pessoas, quando viajam para lugares isolados, nem
pensam no quanto vão aproveitar, mas, preocupam-se se o celular vai
"pegar" no local, se há sinal, ou se a internet poderá ser acessada.
Um desafio já foi proposto, alguém que tinha mais de um celular, computador,
foi levado para um lugar isolado, sem os celulares, sem acesso a
internet, o resultado foi, depois de alguns dias, uma “Síndrome de Abstinência
de Dispositivos Móveis de Última Geração”. Como a maioria das
pessoas não ficarão, voluntariamente, sem acesso à internet ou sem
celulares, não percebem essa dependência. Os dispositivos móveis de
última geração são ferramentas úteis, profissionalmente, e para lazer. A
fronteira entre necessidade, prazer e compulsão em usar, fica meio
nebulosa. Mas, celular de estimação que você mantém até hoje como
recordação, soa irreal. Somente as empresas fabricantes devem possuir guardados
todos os modelos que já foram lançados, isso faz parte da história da empresa.
Embora eu saiba que parece impossível, deve haver colecionadores de celulares.
Imagine que daqui 50 anos, aquele celular que você jogou fora, valha algumas
centenas de reais. Será pouco provável, mas não impossível. Se você teve, nos
anos 80, um console do videogame ATARI, mas, jogou fora, você perdeu dinheiro,
hoje. Temos a tendência de imaginar que algo maciçamente fabricado , descartado
ou trocado não tem valor histórico. Quando um novo modelo de celular é lançado,
a morte do modelo anterior é, oficialmente, decretada. Naquele slogan do
círculo vicioso: é bom porque é moderno, é moderno porque é bom. Todos nós que
já fomos adolescentes sabemos que a escola é uma grande vitrine. Com certeza um
adolescente, no intervalo, entrada ou saída da escola não quer ser visto com um
celular fora de moda, não quer pagar esse mico, então, vai insistir,
convincentemente, para ganhar o modelo novo. Não só na escola, no trabalho, ou
onde quer que seja, ninguém quer ostentar um celular defasado, se não fosse
verdade, ainda hoje veríamos as pessoas falando ao celular tijolão.
Antigamente, os moleques tinham aquela brincadeira estúpida de estrear o tênis
novo, quando alguém chegava na escola ou na rua, os outros pisavam em cima do tênis, isso
explica o verbo “estrear”, e as muitas brigas que aconteciam. As
escolas continuam sendo a vitrine onde se aparece, mesmo sem querer, apenas um novo
ator principal da moda começou a frequentá-la faz já algum tempo, o celular. O telefone de latinha ou copinho já não impressiona mais, quando, no primário, eu vi a professora demonstrando na aula, foi interessante, mas, hoje, onde as crianças já nascem segurando um dispositivo móvel de última geração, o telefone de latinha perdeu o encanto e mistério. Roupas, tênis e
celular. Eu não duvido nada de que haja bullying tecnológico, por alguém usar
um celular defasado, talvez, casos isolados, por sorte, no aniversário se ganha
o celular de presente ou pedindo insistentemente. Qualquer pessoa que não tenha
um celular é vista quase como uma aberração de circo ("Meu Deus!. Você não tem um celular?. Blasfêmia tecnológica!. Devia queimar na fogueira da culpa!."), por incrível que pareça,
alguns, bem poucos é verdade, estão satisfeitos por só serem internautas. Como não precisam do
celular, profissionalmente, e a alinha fixa atende as suas necessidades, essas
raras pessoas dispensam o uso do celular. Mas, estou falando da exceção das
exceções, um número muito reduzido de pessoas. Segundo o IBGE, 51,3% das
residências brasileiras utilizam apenas o celular, não têm linha fixa, ou seja,
o celular já superou a linha fixa. Para as poucas pessoas que não tem um
celular, há milhares que tem dois celulares, em alguns casos, até mais de dois, e não são colecionadores.
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