O Centauro Bípede. Cavaleiro da Sombra.

        Sombra, sombreado, modelagem, sombra projetada, luzes refletidas na sombra.  A parte menos iluminada pela luz. Os pintores impressionistas com seus olhos treinados, uma nova mentalidade, estudando a luz e a neve compreenderam que a sombra  na neve era um “véu azul”. Dando uma riqueza tanto na luz, que era o elemento principal do impressionismo, quanto nas sombras “coloridas”.  Todos os objetos ou corpos refletem e recebem luz, as sombras sempre levam um toque da cor complementar. Se o pintor ou artista optar por uma solução simplista, a sombra parecerá  achatada e um buraco na superfície da tela. A pintura impressionista tornou-se rica e cheia de vida, eles romperam com o academicismo com os cânones da arte. Os impressionistas captavam aquele momento fugaz , na tela, rapidamente, em pinceladas em formato de pontos e vírgulas, tudo num ímpeto, sem sessões e sessões em estúdio, esses milhares de corpúsculos de cor e pinceladas  eram feitas no próprio lugar, rapidamente, pois, devido ao movimento de rotação da terra, a luz mudava constantemente, também no movimento de translação da terra, as estações do ano, eram traduzidas por diferentes tubos de tinta. A paleta de alegria e cores vibrantes. Os pintores impressionistas tomaram a arte sem suas próprias mãos, ou melhor, em seus próprios pincéis, fazendo seus próprios destinos, certamente, abriram um caminho trilhado até hoje. Ao invés de seguirem algo, criaram algo a ser seguido, depois, outros tentaram continuar, porém, eu confesso que, apesar de reconhecer a virtuose do pós-impressionismo, neoimpressionismo, pontilhismo, divisionismo, o trabalho homérico e detalhista da técnica, o uso sistemático da cor, sou fã incondicional do impressionismo. O pontilhismo criou uma armadilha, onde o pintor era aprisionado numa pintura "científica" demais, que tolhia, atrapava a liberdade e espontaneidade. O  pintor impressionista, Pissarro, que não pintou nada bizarro, assim que se viu preso nessa armadilha, abandonou o pontilhismo.  Ao invés da impressão espontânea, era o observador, a certa distância, através da visão, que misturava os minúsculos pontos de cor "pura" para formar a imagem. Apesar de ser neoimpressionista é impressionante!. Os neoimpressionistas foram precursores dos Outdoors gigantes, se tiver a oportunidade de ver um desses painéis enormes de publicidade ao ar livre, verá que, de perto, são milhões de minúsculos pontos de cor. Apesar de eu ser um impressionista convicto, eu respeito o pontilhismo por estar ciente do grau de dificuldade envolvido na execução.  Voltando ao impressionismo, esse rompimento com o clássico, que o Impressionismo propôs, essa coragem de tirar o cavalete e os tubos de tinta do estúdio e levá-los para o meio da floresta ou para o cotidiano, para o dia a dia, essa liberdade, foi preciso coragem, ainda mais com uma chuva de críticas e a recusa das pinturas impressionistas  nos salões de arte. Claro, antes alguns pintores já tinham pintado ao ar livre, mas  não na magnitude e técnica do impressionismo, também é verdade que você pode usar a técnica do impressionismo para retratar algo num ambiente fechado, mas e a essência como fica?. Eu considero o Impressionismo um movimento revolucionário na arte, de vanguarda, muito a frente de seu tempo, visionário, aqueles que os criticaram nunca serão lembrados e erraram feio. Mas os impressionistas pagaram um preço alto no início, a pobreza, o descaso, até insultos contra a proposta inovadora e revolucionária da pintura deles e dela, o grupo dos impressionistas contou com a corajosa Berthe Morisot, que fez história, quebrando preconceitos e enfrentando o machismo da sociedade da época, sendo a primeira pintora impressionista. Ela teve que enfrentar a família e os amigos para seguir seu sonho de pintora, sempre buscando o reconhecimento. A maioria das famílias queriam que os filhos seguissem profissões convencionais ou de destaque, ou continuando o pequeno negócio da família. A aura da pobreza e do não reconhecimento, do fracasso, pairava como uma sombra sobre quem decidia ou sonhava com a pintura. As críticas aos impressionistas vinham nas seguintes palavras, só para citar algumas: “pintura inacabada” ; “um monte de manchas coloridas, jogadas aleatoriamente pela tela”. Na época, muitas charges ironizando o impressionismo, foram estampadas nos jornais. Além de toda a explicação artística e física da sombra, existe a simbólica: sombras, trevas, obscuridade, dependendo da cultura, morte.  Na psicologia, é o lado sombrio do indivíduo, aquilo que é reprimido, ocultado, camuflado no inconsciente, mas projetado nos outros. Na foto do post, aconteceu  uma coincidência, a sombra do homem projetada no cavalo criou um efeito curioso, principalmente, nas patas dianteiras que ficaram parecidas com pernas humanas, a sombra do tronco humano coincidindo na continuação das pernas do cavalo. Usando a liberdade poética, imaginação, eu diria que ficou parecido com um centauro bípede (com dois pés, que anda com dois pés). Um centauro, na acepção grega e mitológica, com o selo de certificado grego, seria tronco e cabeça humanas e corpo de cavalo. Para ser mais específico na comparação e por citar a mitologia grega, eu poderia citar o Pan, que era o deus dos bosques, rebanhos e pastores, vivia correndo atrás das ninfas e tocando gaita, músico e boêmio mais diurno do que noturno, mas eu erraria na metade animal, já que ele tinha cabeça e tronco humanos, mas patas de bode, então, para não dar bode, centauro bípede até que não foi tão ruim. Você poderia alegar que o Pan tinha chifres na cabeça, mas alguns homens também têm, e não fazem parte da mitologia grega nem da romana. O chifre é cultural, se for tomado no sentido de traição é universal, enquanto nos países nórdicos ele simbolizava os vikings, motivo de orgulho, força e virilidade, no Brasil, um elmo viking com dois chifres pegaria muito mal. A não ser que fosse um Cosplay do Bobby, do desenho animado Caverna do Dragão. Voltando a foto, parece que a sombra em duas dimensões aproveitou para dar uma saída,momentânea, para a terceira dimensão.  Para as sombras, se elas tivessem consciência, nós seríamos a projeção delas na terceira dimensão. O que seria um deslize ou um dos erros mais grosseiros em fotografia, isto é, fotografar a própria sombra, transformou-se numa foto muito curiosa. Pode ter sido de  propósito, afinal, é um fotógrafo fotografando outro. Seja como for, coincidência ou proposital, o resultado ficou muito interessante, a ponto de esquecermos a gafe fotográfica da sombra sair na foto, aliás, nessa foto, a sombra foi a atriz principal. Se o castigo vem a cavalo, na foto, a sombra veio a cavalo. O cavalo pode ir para a sombra, num dia quente, mas, nesse dia, a sombra foi no cavalo.

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